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sábado, 28 de junho de 2014

futebol

aquele pedaço de terra
verde de grama cortadinha
eu podia crescer tomate
um pomar de laranjeiras
um poema laranja para brilhar no poente

neste pedaço de terra
eu podia plantar um hectare de flores
plantar batatas, bananeiras
os chineses plantariam soja
os ingleses plantaram seu lazer

hoje transmitido para mais de 3 bilhões
hectare mágico
no estádio em que setenta mil pessoas
aplaudem o jogo
o desabrochar da jogada genial

essa espera infinita que nasce
do lado de dentro deste minifúndio
nos jogadores diante do grande comercial
apenas homens
poderiam ser agricultores

poderiam ser operários
mas são artistas
os melhores do mundo
e a fragilidade deles e minha
toma dimensões planetárias

arte de levar a vida nos pés
na cabeça, nos ombros
equilibrar o planeta na testa
chutá-lo para longe quando insuportável
matá-lo com carinho no peito

fazer embaixadas de interrogações:
é hora de passar a bola?
é hora de ir sozinho?
(ou, de ir acompanhado...)
é hora de parar o jogo ?

é hora do gol
quando a vida é redonda
sem arestas e atende-nos como uma amante
é gol, é gol, é gol
êxtase sagrado

vitória humana
contra o inexorável
que insiste em viver
na nossa grande área
e se cair é pênalti

mas não cai
balança escorrega gira
dá a volta na certeza
meia-lua na sinuca
de bico com força

avante
para frente
sempre junto
do outro lado do erro
fazendo história

se for de bicicleta
quanto mais de cabeça
vale até de peixinho
de canela ou de ladinho
tanto faz se for bonito

a beleza não mora na vitória
nem se esconde na derrota
cabe numa jogada
que muda o nada
em tudo.

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