O tempo tem peso e corpo translúcido
Envidraçada num labirinto de janelas
São Paulo, ocre, idade avançada
não reflete a cronologia gravada
no pátio do colégio jesuíta
nem aquela dos seus rios enterrados
Coagulado verte o tempo
move-se imperceptível
Placas tectônicas aos olhos da lua
Um bebê nasce
um mausoléu recebe novo hóspede
olhos se cruzam na avenida paulista
Um diploma, outro casamento
caminhões abastecem
bicicletas desenham-se
fachadas movem cidades
Tudo está no futuro embora
quase no passado
Ou, em vertiginoso movimento
Tempo líquido de São Paulo
Cidade submersa
Cidade submersa
Algas nas frestas
Edifícios de corais beiram o asfalto
á deriva
Onde o nada nasce velho
torna-se novo e digitalizado
antiga pintura rasgo
antiga pintura rasgo
na máquina do tempo volto
viajo décadas na noite escura
buscando traços e passos
Meu olhar passageiro aranha
o céu cego tateio
a grande teia paulistana
o céu cego tateio
a grande teia paulistana
Alimentam-me fatos atemporais
fotos, versos e coisas que não voltaram jamais
até outra São Paulo
ocf