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sábado, 7 de abril de 2018

Dentro da noite veloz - Ferreira Gullar (Agosto , 1964)


Entre lojas de flores e de sapatos, bares,

        mercados, butiques,

viajo

        num ônibus Estrada de Ferro – Leblon.

        Volto do trabalho, a noite em meio,

        fatigado de mentiras.

O ônibus sacoleja. Adeus, Rimbaud,

relógio de lilases, concretismo,

neoconcretismo, ficções da juventude, adeus,

        que a vida

        eu a compro à vista aos donos do mundo.

        Ao peso dos impostos, o verso sufoca,

a poesia agora responde a inquérito policial-militar.

        Digo adeus à ilusão

mas não ao mundo. Mas não à vida,

meu reduto e meu reino.

        Do salário injusto,

        da punição injusta,

        da humilhação, da tortura,

        do terror,

retiramos algo e com ele construímos um artefato

um poema

uma bandeira

Deus de Espinosa

Depois de intensa passagem pela vida vivida incorporar no belo, no vento na luz da manhã no pôr do sol para dar alento força aos que seguem ...