Escrevo porque Jerusalém me pede
Escrevo para não esquecer
do portão de Damasco por onde os árabes
entram na cidade antiga
no redemoinho da história humana
"Eshrt! Eshrt! Eshrt!"
O som em árabe ressoa pelas ruas estreitas
o mundo inteiro por apenas dez shekels
Pessoas de todas as latitudes
se esbarram e seguem sua historia
"Eshrt! Eshrt! Eshrt!"
Tecidos esvoaçam no céu azul
o cheiro do pão fresco perfuma os cabelos
amêndoas, tâmaras e damascos são flores
nas bancas dos vendedores
nas esquinas a romã é espremida na hora
"Eshrt! Eshrt! Eshrt!"
Tudo parece estar liquidando ou liquidado
especiárias, mercadorias, vendedores aos gritos
a cidade é um lázaro que renasce todas as manhãs
Do portão estende-se um labirinto de caminhos
que me fazem sonhar acordado
"Eshrt! Eshrt! Eshrt!"
Tudo que é fundamental está disponível
a todos os homens e mulheres
O sol acaricia mais uma vez
as paredes carcomidas pelo tempo:
um convite a fazer uma nova história
"Eshrt! Eshrt! Eshrt!"
O mundano, o trágico e o eterno
plantas recém-nascidas crescem nas frestas dos muros
enquanto oliveiras ancestrais observam da colina
um caldeirão imenso e imemorial:
o espetáculo humano