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terça-feira, 18 de agosto de 2020

Jerusalém

Escrevo porque Jerusalém me pede

Escrevo para não esquecer

do portão de Damasco por onde os árabes

entram na cidade antiga

no redemoinho da história humana


"Eshrt! Eshrt! Eshrt!"


O som em árabe ressoa pelas ruas estreitas

o mundo inteiro por apenas dez shekels

Pessoas de todas as latitudes

se esbarram e seguem sua historia


"Eshrt! Eshrt! Eshrt!"


Tecidos esvoaçam no céu azul

o cheiro do pão fresco perfuma os cabelos

amêndoas, tâmaras e damascos são flores 

nas bancas dos vendedores

nas esquinas a romã é espremida na hora


"Eshrt! Eshrt! Eshrt!"


Tudo parece estar liquidando ou liquidado

especiárias, mercadorias, vendedores aos gritos

a cidade é um lázaro que renasce todas as manhãs

Do portão estende-se um labirinto de caminhos

que me fazem sonhar acordado


"Eshrt! Eshrt! Eshrt!"


Tudo que é fundamental está disponível

a todos os homens e mulheres

O sol acaricia mais uma vez 

as paredes carcomidas pelo tempo:

um convite a fazer uma nova história


"Eshrt! Eshrt! Eshrt!"


O mundano, o trágico e o eterno

plantas recém-nascidas crescem nas frestas dos muros

enquanto oliveiras ancestrais observam da colina 

um caldeirão imenso e imemorial:

o espetáculo humano


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