Canto I
Descer as escadas do poço ancestral
do medo ao encontro do universal
Um pouco d'água para aguentar na luta
Celebrar a união nossa
animará os passos ao futuro
daquilo que podia ser compartilhado ainda a disputa
germinada pelo tanatus da crise plantada
onde o sol nublado é mormaço e mais nada
Canto II
Que a inimizade não afaste a azul verdade
O poço é nosso ainda que a jornada solitária seja
Que o castelo soçobre mas que o poço jorre
A água da minha força é também vossa
Separadas as águas abrasasse o sol
mas da reunião nossa e amiga novas nuvens serão formadas
O que se pede é pouco para que cada um ao seu destino chegue
delta onde nossas conquistas encontram as derrotas
Canto III
Que o primeiro passo da jornada seja um gole azul da água
Nela a nossa união eterna e consagrada
Mesmo distante pelos sete mares
entorpecido pelo vinho da ambição
busquei no fundo do meu poço a água que é vossa
Ir ao fundo das coisas necessário seja
para entender os kairus e os cosmos
pois se separados estamos seja a água a grande aliança
Canto IV
Eterno e profundo é o poço e sua verdade
Da pouca água do meu corpo possa ser encontrada a vossa
Não nuble a consciência o sol do desejo intenso
da separação de amigos e convivas
não impeça meu barco de recolher naufragas alegrias
Que a luta ainda quase finda e falta pouco para desaguar na vitória
Em nossas águas recordemos o oceano ancestral dos encontros
Não nos permita o medo de evitar tempestades
Canto V
Se bom navegador sou
levarei a caravela nossa a mares desconhecidos
Celebraremos nossa união e força
em taças da mais puro água
para animar a luta e suas reviravoltas
De cada conflito surje uma nova nascente
que cura e limpa as feridas
de ambições solitárias e desmedidas
Canto VI
Que essa ilha de desejos e seus rochedos não nos ponha receio:
enfrentar desafios é da nossa história e gênese
Celebrada em mares calmos de alvas praias
ainda que a cada um seja dado a própria água
o sol abrasador da cobiça seca os versos
O futuro convida a descer por rios novos e vertentes
para além das inevitáveis separações
que as corredeiras sacudam as falsas verdades
Canto VII
Que eu não tenha receio como Camões de ir á África e a Ásia
na busca daquela verdade última para finalizar a jornada
Que a ansiedade da vitória não impeça a esperança nova
Ao chegar já recebo novo convite pois a água não para
Que a separação de hoje seja riacho do amanhã
Celebremos nossas águas no caudaloso rio da história
A utopia minha é vossa e vossa água é nossa
Somos marés de mudança, somos ondas
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