Os rapazes ao cair da tarde
(em Natal anoitece as dezessete horas)
disputam uma pelada impossível
Os olhos de um pintor imaginário
buscam as cores nas sombras
enquanto o morro do Careca
reflete os últimos raios de sol
A luz generosa cria o lusco-fusco
da espuma marinha no espelho
de areia na ponta da Ponta Negra
O improvável gol acontece.
Outros rapazes ingenuamente
cruzam a arte da arte
para o último mergulho
na paisagem da paisagem
Já passava das nove da manhã
Latitude sul cinco graus
Longitude oeste trinta e cinco graus
Jazia ali o corpo sem vida
do pescador sem nome
do morro do Careca
O cinegrafista calibra a câmera
O jornalista desvia o olhar
a volta do corpo
os olhares de espanto
no futuro que pode ser do outro:
o pescador abraçado de areia
A fina areia do morro
é soprada pelo vento
na ampuleta do tempo
Dizem que bebeu tres dias sem parar
Faleceu ao lado da jangada
Caiu ao mar no ataque do coração
As histórias se multiplicam
sobre o fato ocorrido
Uma fina seda de azul tristeza
cai sobre a praia da Ponta Negra
Vendedores, turistas, pescadores
investigam as causas do infortúnio
De tristeza a causa mortis
O mar subia amaeaçador
Se antes trazia peixes e boas novas
agora leva embora a areia da praia
a alegria e a abundância
escavando a fronte do morro
Maré baixa, maré alta
a ampuleta de areia
marca o tempo do morro
da terra, do mar e dos pescadores
de uma fartura de outrora
A frase poderia ser dita
apenas na madrugada
em local ermo e escuro:
a vida dos gatos é escandalosa
Se a comparação é feita
com a canina existência
fiel ao grupo
nos gatos ve-se a mais escancarada
liberdade
doa a quem doer
O gato pode simplemente trocar
de acompanhante humano
seguir sua vida
sem prestar conta
das centenas de quilos de ração
montanhas de latas de atum
a limpeza do banheiro
a reposição da areia
a lista não para
Os gatos poderiam advogar
que arduamente trabalharam
pela manutenção da tranquilidade visível
pelo proteção espiritual ao invisível
A troca foi feita
Amor? Justiça
Agradecimento mútuo
colaboração, camaradagem
Seja assim como for
que cada um siga seu caminho
ou cultive o territorio partilhado
Eles fazem exatamente isso
ha milhares de anos...
Em Ausland todos são brancos, e se vestem como seus parentes, pais e avôs no ano de 1944. Seus habitantes acreditam, que a Alemanha Nazista venceu a segunda grande guerra. Eles vivem uma vida tranquila conscientes de que são a raça pura, e mesmo que sejam poucos, se consideram um modelo a ser seguido por todo o planeta. Em Aushland, não se vê um cisco de sujeira no chão. As ruas são limpissimas como o tecido aveludado do uniforme escolar das crianças. Eu não tenho a localização exata da cidade, uma vez que confiscaram minha bússola durante minha visita, mas esta é uma ilha subterrânea abaixo de uma cidade austriaca, que foi bombardeada pelo exercito norte-americano ao final da segunda grande guerra. Parte da população, se refugiou no bunker da cidade, e depois resolveu ali ficar e expandir o lugar, que se transformou em um maginifico labirinto de túneis, e cavernas escúlpidas na rocha para criar uma bela cidade com viadutos e calçadas flutuantes. O aspecto geral das pessoas é muito altivo. Visitei o governo da cidade. O prédio público parecia uma residência de família. Muito democratica para os que são eleitos a morar em Aushland. Há quase nenhuma hierarquia entre os donos de fábricas e os operários, e entre os políticos e os funcionários da prefeitura. O nascer e o por do sol são projetados nas paredes da enorme caverna onde se localiza a ariana cidade de Aushland.
