Para que serve um pé, o direito? Tanto quanto o esquerdo servem para dar direção na vida. Quando torcemos o pé, no caso o direito, perde-se a direção, e é facultado ao contundido o direito de descansar do trabalho, e subir numa montanha (mancando ou com muleta) para ter uma visão ampla do ambiente e no futuro decidir para onde ir. Mas antes disso, é facultado aquele que se trumbicou dias de descanço com o pé para cima. Compressas frias, de início, e quentes depois, nessa ordem. A internet fornece diagnósticos e o paso a passo da recuperação, bem como fotos e filmes a respeito a estrutura do pé. Isso me lembrou uma foto de um catedral na Colombia feita de bambu, terra e cordas. Com certeza, o arquiteto deve ter torcido o pé no futebol, ficou dias parado, de molho, e entendeu a maravilha de 26 ossos do pé amarrados e preenchidos por músculos. Não há engate, mas encaixe por sobreposição com ligamentos e fibras, como a fascia, formando um conjunto articulado que permite inúmeros movimentos ao meu e ao seu pé direito (ou esquerdo). Com paciência, logo o pé direito estará tomando a direção certa, voltará a chutar uma bola, a correr pela praia mas esquecerá, que é parte de uma arquitetura criativa e natural.
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quarta-feira, 27 de dezembro de 2023
terça-feira, 26 de dezembro de 2023
De Fotografia e Poesia
Uma bruxa me disse que eu era uma alma velha. Uma abuelita de Cuzco me disse que "tienes energia de papa". Eu não tenhos filhos e parece que sou uma alma velha e paternal. Cuido de ideias, poemas e gatos, mas não gosto de sorrir nas fotografias, a não ser que a fotografia me sorria. Não gosto de "selfies" que " me dá igual". Até 1960, fotografia era coisa sem sorrisos. Não substituia a vida. Era o registro em duas dimensões de uma realidade enquadrada e atemporal. Depois a vida seguia seu curso normal. Hoje, a fotografia deseja substituir a realidade. E o cinema? Ainda resiste na fuga saudável das fotografias em movimento existindo livres da exigência dos padrões. Eu gosto de haikus japoneses, estes anzois de imagens que capturam em tres lances rápidos o que a realidade quer dizer. Se houvessem regras as fotografias seriam tiradas apenas quando a realidade quisesse se expressar. Ou seja, a partir da perceção daquele instantâneo, novas realidades poderiam ser criadas. Em priscas eras a fotografia era a ferramenta do instante. Não era essa imposição constante: impostura popular e acessível. Neste jogo de espelhos a coisa se perde da imagem.
quinta-feira, 21 de dezembro de 2023
Capoeira Sideral
O estribilho do berimbau
sobe aos céus tisnado dos sons
de atabaques, pandeiros e agogôs
Atravessam as camadas de ar
chegam na matéria escura
que se abre à imensidão imperscrutável
Dali começam a longa jornada
ao universo insondável
Quem poderá afirmar
que não criarão em algum lugar
um novo big-bang
uma nova expansão de prótons e energia?
É o que fazem nas rodas de capoeira
do planeta Terra
terça-feira, 19 de dezembro de 2023
Atrás de Cora
Atrás de Cora
só não vai quem já morreu
Garota esperta vê o que vai atrás
ou na cara do poeta
Ela não leva nem traz
só quer saber o que pode dar certo
mas o poema tem licença poética
aquele toque do criador
que faz do pobre erro gramatical
uma arte imortal
A língua é viva
acha jeito de grafar
o quase certo
pois errar com gosto é divertido:
è a alma do sucesso
sexta-feira, 8 de dezembro de 2023
Meias ou Cuecas? Feliz Natal!
É Natal! Nas camadas mais profundas do ser, é tempo de escolhas. As boas serão um dia presenteadas. As más pagarão seu preço no peso arrastado durante os anos. Meu pai me dava sempre duas opções: "Você quer meias ou cuecas?". A escolha não era minha, era dele. Ele deveria saber o que era melhor para mim.
É preciso dizer que foi um homem bom, e educado. Dentista e advogado, que emigrou do estado do Maranhão para Brasilia. Fez seu mestrado no Rio de Janeiro, deu aulas em São Luis, e amava o Brasil. Se revoltava com os maus políticos, e os maus empresários que não cuidam do povo, que não lutam por uma vida melhor para todos. Seus defeitos nasciam do exagero de suas qualidades. Era um ser autêntico.
Ano após ano, próximo ao Natal, ele soltava a fatídica frase: "Você quer meias ou cuecas?". Isso só poderia ser mesmo uma brincadeira. Meu pai me cobrava boas notas na escola, eu me esforçava para trazê-las, e no natal lá vinha a mesma interrogação anunciando as mesmas opções. Não saberia meu pai o que um menino de 10 anos deseja, o que um adolescente de 15 anos anseia, o que busca um jovem de 20 anos na universidade? Meias ou cuecas?
Se ele fosse um mestre zen-budista, este seria um perfeito "koan" ou charada, que o discípulo se esforça, medita, matuta, mas nunca chega a resposta. Não estou exagerando. A mesma frase era repetida anualmente um pouco antes do dia 25 de dezembro. Hoje, eu vivo na cidade de Natal e o Natal se aproxima, e meu pai não está mais entre nós.
Ele seria a minha escolha definitiva: meu pai de volta, nem que fosse na noite de Natal deixando presentes debaixo da cama na manhã do dia 25...cedo entendi, que o Papai Noel era o meu pai, e era maravilhoso saber, que meu pai tinha um cargo tão importante.
Depois do almoço fui ao shopping com Andrea para comprar cuecas. Súbito sou atravessado pela enigmática frase: "Você quer meias ou cuecas?". Confesso ao vendedor a frase paternal. A senhora ao lado ouve e acha graça. E subito pronuncio a solução do enigma, o satori budista, a derradeira resposta: "A gente só precisa de meias e cuecas novas, o resto dá-se um jeito". E rimos os três juntos. A resposta como mágica flutuava no ar como um balão azul pela loja.
Algo em mim deu um estalo: eu só preciso confiar na vida, em meus valores e idéias, que para o resto (o mundo todo la fora) dá-se um jeito, desde que minha relação comigo seja confortável. Para o desconforto do mundo, eu posso dar nomes interessantes: aventura, desafio, evolução, e aprendizado.
O que meu pai queria dizer era que para sermos felizes precisamos das pequenas coisas, que nos renovam, deixam-nos confiantes para enfrentar os altos e baixos da vida, os chamados da existência, as conjunções dos planetas, as mudanças inexoráveis, os golpes de sorte, e de azar.
Mas como dizer a verdade ao menino de 10 anos que queria ir a Disney, ao adolescente de 15 anos que queria andar de skate, ao universitário de 20 anos que queria morar no exterior, ao aventureiro de 30 anos que queria cruzar desertos, ao engenheiro de 40 anos que queria resolver problemas de uma tribo indígena, ao quase doutor de 50 anos, que ainda tem dúvidas de que é um bom escritor?
Ele não pode me dizer mais nada, e nem precisa. Se eu pudesse, diria a ele: "Papai, finalmente, eu entendi sua filosofia do desapego pelas coisas materiais, a serenidade nas derrotas e vitórias, o seu bom humor, o seu amor pela natureza, pela sua família, pelos seus amigos, seu carinho pelos necessitados. Que presente tê-lo comigo durante todos esses anos. Esse ano papai eu quero cuecas novas, feliz natal!".
segunda-feira, 4 de dezembro de 2023
Lua Cheia Potiguar
O oceano traz noticias do leste
carreando vibrações siderais
que vem dar na costa potiguar
Que mensagem é essa que muda
a cor dos ventos
a temperatura da água
o cheiro do crepúsculo?
Altivo chega o mar
de peito estufado nas areias da Ponta Negra
A lua cheia de beleza me sauda:
"Sou eu poeta
aquela que traz as boas novas
que reverberam de titânicas energias
mas chegam suaves ao mar"
sexta-feira, 1 de dezembro de 2023
Travessia Corporal
Da boca ao fígado
do ouvido ao ilíaco
Quantos vezes fizemos
a travessia do corpo
de norte a sul
de leste a oeste?
O gole d'água refresca
a ponta dos pés num instante
Tudo tão ligeiro
mais rápido que a internet
Corpo de cristal liquido transmite
sinteses proteicas de rara geometria
Da latitude dos braços a longitude dos cabelos
Do polo cerebral ao polo ventral
Geleiras derrentem na imaginação
enquanto o coração esquenta
ou esfria
O corpo tem comida favorita
seja ela qual for
Da cabeça ao estomago
constroi-se a si mesmo
Não ha distância que explique
essa autopoiesis de perto
Sentir para fora é pensar
Envelhecer por dentro é entristecer
Amadurecer tem que amar
tem que endurecer
sem perder do corpo
essa eira nem beira
que a gente vai levando
girando pelo globo dos olhos
em busca de primevas origens
da boca do mundo
para a boca do corpo
imagina-se mente
desfaz-se de pensamentos
Buenos Aires
Necesito mirar afuera para ver adentro Necesito entender el peso que yo cargo Necesito Buenos Aires para reír de las tonterías d...
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O afeto que sinto nessa latitude em longitudes próximas que cruzam a linha do Ecuador é o mesmo que aquele que é desfrutado alhures em si ...
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Então você quer ser um escritor Se isso não é um trovão que atravessa você apesar de tudo e qualquer coisa, não faça isso A não ser que isso...
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I came really close that time: California was my hands... 92 Nobel prize winners! Maybe I can snag one bring it home Imagine my dad finally ...