Meus irmãos ainda me prendem
às memorias da infância feliz
da adolescencia conturbada
naquela década de 80
de reviravoltas, medo e esperança
Meus irmãos não deixam
que eu desista do passado
que dê a ele uma limpeza
com pano e álcool
Meus irmãos estão apavorados
com a vida, sua linha sem volta
ninguem larga a mão de ninguem
Eu larguei as 19
bem antes imaginava-me
membro de uma sociedade secreta
de uma família imaginária
Menino de muitos irmãos
Minha casa era a rua
Minha mãe me chamava de cigano
Meu mestre de capoeira de giramundo
Eu pareço dono de muitas derrotas
tentativas ou infames vitórias
Sou pleno de falhas necessárias
um destino desconhecido
É preciso errar
ir pelo caminho torto
para encontra-se finalmente
apartado de um mundo errado
Eu fui um adolescente em Brasilia
a calça punk escondia o medo
da rebelião que nunca aconteceu
mesmo letrado recusei-me
ser servidor público
graduado, aposentadoria garantida
Preferi o improviso e o salto
do porvir incerto de São Paulo
Sou interdisciplinar
mas ninguem acredita
Me disseram: você é pluriapto
Não é doença mas é quase
Devo ter defict de atenção
E se for autismo?
Os irmãos pouco me ligam
os amigos da infância sumiram
Não sei o que pensam:
sou pensamentos á deriva
Quando meu pai se foi
o sol bateu com força
na pele em lágrimas
Quando os irmãos se vão
cresce a responsabilidade
meia volta vou ver
Ser um pouco de cada
desvendo a vida do passado
mirando o futuro
sorrir para todos