No ano de 2647, o poeta visitou
uma superquadra de Brasília
distante uns 600 anos dos jornais de hoje
(daqueles tempos da mudança climática)
Brasília a que seria o berço de uma nova civlização
como nos disse o italiano Dom Bosco, em 1883
encontrava-se sem rumo e paraíso
em choque entre a distópia e a realidade
O Antropoceno seguia seu passo resoluto
acompanhado da mais avançada tecnologia:
plantas artificiais aprisionam a energia do sol
Impera o céu cinzento no planalto central
Dilapidado o Cerrado por completo
nada sobrou das promessas de anos dourados
quando se duvidava
que o clima da Terra irá se desestabilizar
O futuro das belas palavras
das ciências e da diplomacia não nasceu
Há disputas ao longe dos cataventos no deserto
que circundam o avião de Niemayer
Vive-se mais nas gaiolas de concreto
do que nos gramados agora de silício
Observo descendentes no mesmo apartamento
fatiado em kitnets e janelas
O poeta é tomado da justa verve
de quem teve a beleza roubada:
"Vocês deixaram isso acontecer!"
"Vocês deixaram isso acontecer!"
O planeta agora é completamente humano
cercado de abismos e ambições
Somos enfim a imagem e a semelhança
de nós mesmos e nada mais